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Man with a Cellphone Camera
Movie Review
By Fabricio Estevam Mira

Intermináveis, cansativos e tediosos voice-overs. A estética pasteurizada, insossa, testada, aprovada e consumida ao infinito por ruminantes de telenovelas. Platitudes travestidas de poesia sensível e de sutileza inalcançável. Um nojo quase crônico, de ousar em temas que possam quebrar a harmonia de um ecossistema pautado pela falta de crítica, a tudo que não tenha passado pelo crivo de todos os amigos, amantes e mídias sociais. O endeusamento de um passado de glórias duvidosas, usado para esconder a falta da loucura necessária para dar voz a algo verdadeiramente novo.

O audiovisual brasileiro é um viciado em medo. Um viciado que se orgulha da sua droga de eleição, e bravateia que está ali porque quer, e que pode parar a qualquer hora. É um cenário de conquistas e brilhantismos irregulares e convulsivos, onde obras de calor mais intenso podem ser contadas a dedo. Um desses raros casos se chama “Um Homem Com Um Celular”, do jovem Lucas "Luc" Da Silveira. Sim, ele faz referência ao clássico do cinema experimental, o filme “Um Homem Com Uma Câmera”, mas sua referência é realmente uma homenagem, e não um entrincheiramento na obra homenageada. Lucas capta, apenas com celulares, o mundo que o cerca e cerca as suas amizades. Da arquitetura da cidade aos likes em plataformas digitais. Da sexualidade que se afirma às salas escuras dos festivais de cinema. E tudo num excesso crescente de tudo. E muito desse todo é banal e quase infantil, mas nisso se evidencia a capacidade de Lucas, porque somente com talento real é possível transformar o que imediatamente seria descartado pela maioria, em tributo sério, original e divertido.  Um bombardeamento tempestuoso de informações que, graças ao forte senso de harmonia de Lucas, é tornado palatável. Harmonia com um fôlego criativo invejável e uma rapidez de raciocínio visivelmente acima da média. Características de um artista verdadeiro, que pode explorar qualquer outra manifestação artística que desejar. Características de um cineasta que, se mantiver o foco e não se prender apenas ao mais mundano da arte, poderá se tornar algo grande.

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