Film Review:
Kikazaru.
By Fabricio Estevam Mira.
Atualmente existe uma grande chave mestra que abre as portas para um filme entrar em vários festivais de cinema: Falar sobre minorias. Você não precisa fazer parte da minoria que irá mostrar no seu filme. Não precisa ter alguma relação com alguém que faça parte. Não precisa conhecê-la ou mesmo gostar ou trata-la corretamente. Precisa apenas usá-la como tema central no trabalho que irá apresentar, e ele, muito provavelmente, não precisará ser bom. Um truque usado cada vez mais, por quem deseja blindar a sua falta de talento com um escudo bem envernizado. Isso gera, consequentemente, efeitos contrários às minorias e ao cinema. Para as minorias, pode criar uma representação vazia e, quase sempre, se não totalmente esquecível, muitas vezes ofensiva. Para o cinema, inunda as salas dos festivais com a água salobra da mediocridade, que irá espantar, talvez definitivamente, a possibilidade de novos fiéis para os templos da tela prateada.
Mas é entre tons de cinza que as cores vivas se destacam mais. Entre falsos defensores dos injustiçados, é onde uma voz que realmente vive e sabe o que prega, se torna inquestionavelmente evidente. O curta Kikazaru, de Matheus Cabral, grita, mesmo sendo totalmente mudo. São dois minutos e quarenta e cinco segundos onde Matheus mostra a rotina diária da sua mãe, que é surda. Seria totalmente trivial, se não fossem dois recursos extremamente simples, que dificilmente seriam empregados de forma tão inteligente e sensível, por alguém sem um aprofundamento real e emocional na questão da deficiência auditiva: a retirada de todo o som, e o acréscimo de legendas no lugar dos sons que deveriam estar lá. É surpreendentemente efetivo. Quando, por exemplo, aparece um relógio com a legenda “Som de Tic Tac do Relógio”, e nenhum som é emitido, você sente, inicialmente, como se os seus ouvidos estivessem tampados. Você procura pelo som escrito na legenda, mas onde ele está? É angustiante. E assim continua o filme, com fotografia, edição e direção eficientes. Acaba. E o que fica? O que deve ficar ao se assistir qualquer filme preocupado em te mostrar um ângulo diferente do mundo. Um ponto de vista que, por ser tão distante do seu, pode fazer com que você aliene todo um grupo. Não por maldade. Não por sadismo ou prepotência, mas pela ignorância banal e humana, inimiga de toda empatia. Matheus Cabral fez um pequeno e grande filme.